vísceras

Voltemos com Sua licença Senhor, Vossa Majestade, à vaca fria ou sagrada, e ao relato do ataque mui grande que sofremos por ordem da capitã Flor, duquesa de Tűz kés, a qual bem certo creia que disputava o trono com D. Susana, viscondessa de Meinungsfreiheit. Vinham todas rijas em direcção aos homens, traziam alfanges novos e mosquetes nas mãos e suas feições estavam agora descobertas, de bons rostos e bons narizes, bem feitas.

Estava na prancha nesse tempo que me pareceu infinito, prostrado aos pés da Condessa de Maresia, o frio do aço pegado ao pescoço. Abaixo de nós os círculos de tubarões não se perturbavam, seguros que o almoço estaria para breve. As hostes rebeldes não davam tréguas e incitavam a Condessa a furar-me de um lado ao outro, gritavam “corta-lhe uma orelha”, “uma perna” ou “corta-lhe logo a cabeça!” como se eu fosse um leitão assado. Farta da tirania, embainhou a espada e estendeu-me a mão enluvada, sob ameaças e apupos.

Nossa capitã-mor estava a salvo da confusão, adormecera na gávea forrada de céus, e quando despertou com os gritos das moças, fez suas diligências para achar Andrhimnir e lhe comandar que fizesse da vaca vianda. Apareceu-lhes então no convés a capitã, aplaudindo com folgança, nem notaram que já não havia mu-mu presa ao mastro. Basta que até aqui como quer que elas se amansassem em alguma parte, baixaram as armas às palavras da capitã Cuca, quando ela mencionou almoço e muita gabança, logo de uma mão para outra.

Sentaram-se então os convidas, e trouxe-lhes o cozinheiro a viande e demais restos que sobejara do saque. Eu não vi nem provei o suculento bife, mas imagino. Aos que pedem clemência e aos que mudam de lado, a capitã-mor não perdoa, e por sua ordem, atado e vendado, caminhei na prancha acompanhado da Condessa de Maresia, prima directa do deposto Príncipe da Noruega. No deque ouvi Palmier Encoberto Mafiya e Carla la Chica Sencilla a despedirem-se antes de embater-mos na água, e juntamente com gaiteiro nosso, dançavam e cantavam, e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita.


E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta embarcação vi e, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe. Cá o desejo que tinha de tudo vos dizer mo fez assim pôr em palavras, com alguma dificuldade, pois as vísceras do tubarão são pequenas e apertadas, mas a Condessa Maresia tinha um isqueiro, e eu trazia comigo papel e aparo, e uma garrafa de rum pela metade…




Comentários

  1. está-me bem a parecer que isto só resolve com um super-herói....
    (deixa-me acordar.... por amor da santa, é domingo... :) )

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    1. pelo menos nã comemos a vaca! :)
      (já passavam das 3 quando terminei, estou com descompensação horária!)

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  2. Isto requer uma leitura sem ressaca ...
    Já volto :)
    (Vou ler o que perdi)

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    1. imagina escrever com ressaca...
      (boa sorte, estão ai os links, andei perdido um dia inteiro, que os deuses te ajudem!)

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  3. Magnífico, escrivão!!!!
    (muitas incongruências no relato, é certo :b mas esperar o quê do inimigo? :)

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    1. espero que esteja satisfeita com o seu título, Duquesa de Tűz kés!
      (depois da capitã-mor ter mandado servir a vaca, já pouco podia fazer :)

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    2. estou já a estudar a genealogia dessa Duquesa, para perceber se devo aceitar o título. amigos de Piratas, nunca são de fiar...
      :)))

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    3. conheço os seus tios da casa real Húngara, nunca nos demos bem!

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    4. mas que diabos... vamos ter de guerrear novamente?!

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    5. nã se esqueça Duquesa, que ainda me encontro no interior de um tubarão (mas a rede é boa, desconfio que é fibra) acompanhado da sua aliada (mais ou menos) portanto, se depender de mim, assinamos um tratado de paz, ou fumamos uma cachimbada...

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    6. combinado! assinamos o papel no almoço de Páscoa (só nessa altura é que volto a ter as rendas e os faqueiros da família).

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  4. Guerreiras, despistámos o inimigo! julgam que a vianda era mu-mu, ahahahahahahahahahah!!!!!
    (bendito rum que os pôs todos a dormir sem darem acordo de si durante a nossa emboscada de mestres da espada! iiiháaa)

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    1. Viscondessa de Meinungsfreiheit, ainda estou dentro do tubarão com a Condessa Maresia, se tiver a faca à mão, por gentileza...

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  5. Stormy:

    Já perdi o fio da vossa história :) demasiada informação para um domingo :))

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    1. imagina chegar lá com uma valente ressaca e começarem a chamar-me primo directo do deposto Príncipe da Roménia... bom domingo :)

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  6. Ehehehehehe.
    Manelito, esta adrenalina é tão boa :)
    Estás em plena forma ;)
    Vê-se dormes um pouco, para repor energia. Olha que eu, já para lá da meia idade, já não tenho pedal para estas tertúlias madrugada fora.
    Beijoca boa :)

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    1. estou com o sono trocado, só me apetecia dormir a meio do dia... :) obrigado Sandra, mas só me dei ao trabalho de plagiar... beijos:)

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  7. Fantástico, Manel Mau-Tempo.
    Que maravilha de crónica!! :)))
    Vou enviar uma expedição para te tirar de dentro do tubarão.

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    1. o perdão!!!! já começo a ficar com cãibras,isto realmente é apertado :)

      (só copiei o que escreveste como se fosse o Pero Vaz... tu é que tiveste todo o trabalho)

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  8. Uma grande crónica, Manel.

    (se Manel Mau-Tempo não é o melhor nickname de sempre, então não sei nada disto...)

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    1. obrigado, mas nã fiz mais que plagiar... até o nome!

      (toda a gente me arranja epítetos, acho que virou passatempo)

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