atravessado



Naquele dia não lhe respondeu. O eléctrico arrastava-se beijando o rio quando, com um sorriso de quem não levara a sério a conversa, perguntou se queria ir com ele para a Lua. Desviou o olhar de obsidiana seguindo o trajecto das gotas que turvavam a margem. Não havia lugares vagos, mas o silêncio era opressivo, estariam cheios um do outro, abarrotando pelas costuras. Naquele dia não lhe segurou o rosto pelo queixo, nem secou as lágrimas na manga de caxemira. As mãos soltaram-se, procuraram o vazio dos bolsos, caminhando lado a lado, até a distância que os separava ser de uma milha, mille passus de um centurião. Acenou antes de dobrar a esquina, adeus até um dia.


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