clarabóia

Nove letras, treze horizontal, parte envidraçada de um telhado para entrar claridade…

Não me perguntem como é a parede sul. A mobília sóbria monocromática espalha-se apenas pelas paredes norte e este. A oeste uma janela ladeada de carregados reposteiros, deixa entrar a luz cinzenta da tarde. O único rasto de objectos decorativos são formas geométricas descoradas nas paredes, onde em tempos telas e quadros conviveram com retratos de férias, livros sem ordem, álbuns de vinil, candeeiros e mantas. Estou sentado na poltrona a norte, na mesma roupa que entretanto secou nos ossos. Disse-me, já não me lembro bem quando, mas foi no início dos tempos.

não és nada do que se diz por ai.

Sorri prudentemente, continuando a rabiscar o toalhete de papel salpicado de gordura, estava desde domingo sem fumar, os dedos pediam ocupação.

Devias experimentar sorrir mais, as pessoas tendem a ficar com uma ideia errada de ti.
Quando nasci, a varinha de condão da fada madrinha da simpatia, estava avariada, tinha sido enviada para a grundig de Nuremberg, uma reparação que lhe iria custar, literalmente, os olhos da cara.
O que me ficou mais marcado na memória, foi precisamente a expressão que lhe ficou no rosto, então acendeu um cigarro, aborrecida com o comentário, bafejando o fumo tentador na minha cara. E continuei. Que mania essa de classificarem as pessoas em dois grupos, se não são simpáticas, é porque são más… não sou de sorrisos, como aquele fulano que se cruza no elevador com o vizinho de cima, o mesmo que andou a arrastar móveis pela noite adentro, e em vez de o chamar a atenção, espevita o zigomático e sob a iluminação fluorescente, rasga-se-lhe a cara num belo sorriso, formalmente acompanhado de um cumprimento qualquer matutino, estado do tempo, blá, blá, blá…

Deixa-me adivinhar, tu és o vizinho de cima!

smoke

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