aperto

Aproximou-se sorrateira pela retaguarda na fila para o café, convicta no arrebate supressa sobre a cândida presa, pisando ligeira em molhos de algodão.
Mal vejo a hora de ver na íntegra esses boxers azuis, sussurrou ao ouvido.
Aqui não bela Inês, depois lá fora terás toda a minha atenção.
Tens medo que a Beatriz descubra que andas a babar pelas duas?
Babar-me-ia de vos ver juntas, isso sim… em reduzidas vestes, perpetrando curtas manifestações de afecto… apesar de a minha imaginação ser tão fértil…
Que aconteceu ao gajo gentil e cordial?
Aqui dentro tenho uma reputação a manter.
Feio e convencido, tudo o que as mulheres podem querer. Às sete lá fora.

O roupeiro estendia-se a toda largura do quarto, de parede a parede, portas de correr silenciosas, grandes e dispendiosas. Metade do seu interior era vivo, palpitante, de tons claros e vibrantes floridos ocasionais, usando o perfume dela. A outra metade de fatos e sacos da lavandaria, escura, metamórfica, vários casacos, sobretudos por medida, calças vincadas penduradas, sem rasgos ou nódoas, imaculadas.
Um dia de manhã abri uma das suas grandes porta e senti que a nossa vida era proporcional ao seu interior, sem a paixão desenfreada e doentia de roupa largada pelo chão e migalhas na cama, inesperadamente a mesa da cozinha passou a servir só para refeições, e a da sala para receber os amigos, sexo ficou restrito à cama, podendo o sofá ocasionalmente ser palco de preliminares, já não entrava no chuveiro vestido para a surpreender no meio do banho, principalmente usando aqueles fatos de lã ou as camisas de algodão egípcio. Tudo era metodicamente organizado, arrumado e comedido, sempre perfeito e belo à espera de ser fotografado para uma página do catálogo.

Isto é para homens?
Não moço, esta parte ainda é secção feminina. Tenho de te dar a mão?
Passamos a outra secção sem que conseguisse estabelecer a diferença, deixando que ela se ocupasse com uma pilha de calças azuis escuras.
Já estamos na secção de homem?
Que número vestes?
Grande
Grande já vi que és, mas um número ajudava.
Do fundo da pilha puxa um par, confere a etiqueta e depois desdobra-as à minha frente pela cintura. Acho que estas servem.
São azuis!
Alguma objecção?
O meu sobretudo é azul, não vou andar de azul da cabeça aos pés…
Não tens outro?
Já me viste com outro?
Vai ser mais difícil do que tinha imaginado, podem ser pretas?
Acho que sim…
Tem este modelo em preto? perguntou à funcionária depois de correr com o olhar a secção supostamente masculina. Falam as duas como se eu não estivesse presente, tirando-me as medidas, salientando a minha fisionomia ali e acolá, referindo os meus gostos e a minha preocupação com o azul marinho… finalmente entro na solidão claustrofóbica dos provadores com quatro pares de calças, mal tenho espaço para abrir os braços. Cá fora ela vai gritando indicações. Veste primeiro as pretas.
Quais delas?
Lá visto umas quaisquer, apesar de ela continuar a relatar os pormenores das calças que ela deseja que eu experimente primeiro, para mim são todas iguais. Saio amuado para ouvir, não eram essas. Tira, não te ficam bem.
Tens a certeza que isto é para homens?
Segundo par nem vale o sacrifício, reclamo que me apertam nos testículos. Deixa ver. Mas ficam-te bem, ai todo apertadinho…
Talvez seja melhor pedir o número acima!
Tem calma, experimenta as outras, o corte é diferente. E pára de bufar, não és um touro na arena!
nem o toureiro em collants…

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